Soja e carne suína podem ser as “vítimas” brasileiras num eventual acordo entre China e EUA
Brasília – As exportações brasileiras de soja em grãos e carne suína para a China podem ter uma forte redução caso a reunião de autoridades da China e dos Estados Unidos, nesta semana em Washington, seja concluída com o fim das arestas e permita que sejam concluídas com êxito as tratativas entre os principais negociadores comerciais das duas potências, programadas para o mês de outubro. Se americanos e chineses chegarem a um acordo, a China voltará a importar esses dois produtos dos Estados Unidos, com a consequente redução das compras junto aos fornecedores brasileiros.
Um primeiro passo nessa direção foi dado na semana passada, quando a China anunciou a não imposição de tarifas adicionais contra a soja e a carne suína americanas, numa clara demonstração do interesse em atenuar as tensões com Washington poucos dias antes da realização de mais uma rodada de negociações entre as duas maiores potências econômicas do planeta.
O gesto de Pequim veio na sequência da decisão anunciada em Washington pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que adiou aumento de tarifas sobre certos produtos chineses.
A China havia criado tarifas adicionais de 25% aos produtos agrícolas dos EUA, incluindo soja e carne de porco, em julho de 2018. Em 1º de setembro, o país aumentou as tarifas para soja em mais 5% e, para carne de porco, em mais 10%.
Um surto de peste suína africana reduziu em um terço o rebanho de suínos da China desde meados de 2018, levou os preços da carne de porco no país a níveis recordes e deixou a China em necessidade de suprimentos de reposição do exterior.
Também é esperado que a China intensifique as compras de soja, historicamente a exportação agrícola mais valiosa dos EUA. O país asiático evitou compras de soja americana desde que a guerra comercial começou no ano passado.
Na semana passada, o presidente Donald Trump disse que prefere negociar um acordo comercial abrangente com a China, mas não descartou a possibilidade de um pacto provisório.
Efeito nas exportações do Brasil
Entre autoridades governamentais e representantes de setor produtivo da soja e carne suína acompanham com interesse e apreensão os gestos indicando disposição de americanos e chineses de se buscar um armistício na guerra comercial que vem afetando não apenas suas economias, mas a de todo o mundo.
O comércio da China com os Estados Unidos e o mundo está encolhendo, num reflexo da guerra comercial que há muito deixou de afetar apenas as economias chinesa e americana. Assim, as importações da China de produtos americanos caíram 22% ao ano em agosto, enquanto as exportações de produtos chineses para os EUA encolheram 16%. Com isso, o superávit comercial da China com os EUA caiu para US$ 27 bilhões em agosto, ante US$ 28 bilhões em julho e US$ 31 bilhões em agosto de 2018.
Por outro lado, as exportações global da China tiveram uma queda de 1% ao ano em agosto, a maior queda desde junho. As importações chinesas diminuíram 5,6% ao ano em agosto, no quarto mês consecutivo de declínio. Nesse mês, o saldo comercial chinês caiu para US$ 34,8 bilhões em agosto, contra um superávit de US$ 45 bilhões no mês de julho.
Efeito nas exportações do Brasil
Os efeitos do contencioso comercial sino-americano já se fazem sentir sobre o comércio exterior brasileiro. E em especial em relação às trocas com a China, o maior parceiro comercial do Brasil em todo o mundo. Em agosto, as exportações brasileiras para a China tiveram uma queda de 2,88% e totalizaram US$ 45,532 bilhões. Retração praticamente idêntica (2,26%) foram registradas nas vendas chinesas ao Brasil, que somaram US$ 23,736 bilhões. Por valor agregado, a retração foi de 3,2% (para US$ 36,75 bilhões entre os produtos básicos) e de 15,1% (para US$ 799 milhões nas importações de produtos manufaturados). No período, a alta ficou por conta dos bens semimanufaturados, que cresceram 10,7% e totalizaram US$ 3,98 bilhões.
Um eventual acordo entre chineses e americanos envolvendo a soja, pegaria em cheio os produtos brasileiros da oleaginosa, que de janeiro a agosto já amargaram uma forte queda de 26,0% nos embarques para o gigante asiático. A partir da próxima safra, com um acordo sino-americano, receia-se que essa tendência de retração se acentue ainda mais. Com uma receita de US$ 19,906 bilhões, a China foi o destino final de 75% de toda a soja exportada pelos produtores brasileiros até o mês de agosto deste ano.
Um acerto entre as duas potências certamente também afetará as exportações brasileiras de carne suína. De janeiro a agosto, os embarques geraram uma receita de US$ 883 milhões e a China e Hong Kong foram responsáveis por 49% das vendas, equivalentes a US$ 438 milhões.
Fonte: Comex do Brasil